Quem é preposto sabe: tem dias em que se fica nervoso já na véspera. E esta audiência foi um destes casos. Era uma instrução, onde a prova seria difícil (sim, difícil para a empresa, porque para o reclamante sempre é fácil: traz qualquer um, paga um "troco" e o "vivente" conta tudo, todas as "verdades"), mas consegui uma testemunha (raro, porque eles sempre tem medo de retaliações dos reclamantes - claro, eles se conhecem, principalmente quando a cidade é pequena).
Naquela tarde, me fui, nervoso, mas seguro. Chegando lá, a testemunha, por mim convidada, me aguardava. Sentamos no saguão de espera. O reclamante também lá já estava, sentando com uma moça. - Deve ser sua testemunha, pensei. Quando se beijaram, vi que era outra coisa. Ele estava sem prova.
Fiquei tranquilo, pensando que poderia acabar ali e que nem fosse necessário ouvir minha testemunha.
Sai o pregão, entramos. Passadas as formalidades iniciais, o advogado do reclamante quiz me ouvir. Pensei: "mas que m...". Mas estava tranquilo. Respondi tudo na "tampinha", sem dar chances. O reclamante também foi ouvido.
Bom, agora é só ouvir nossa testemunha e tá acabado, imaginei.
Mas como o reclamante estava na ordem para ouvir, o Juiz perguntou sobre testemunha e, para surpresa minha, o advogado disse que tinha alguém para ouvir. - Será que chegou alguém após a nossa entrada na sala de audiências?
Quando o Juiz perguntou o nome da testemunha e o procurador respondeu que era Pedro (nome fictício), eu "gelei" e senti toda a maldade e falta de ética. Alguns diriam "esperteza".
Eu e a advogada que me acompanhava ficamos "congelados" por um momento, mas já que a situação era essa, vamos enfrentá-la...
Começam as perguntas. A testemunha responde tudo na "bucha". As respostas correspondiam ao que eu havia declarado ao Juiz, quando da minha oitiva. O "digitador de ata" chegou a perguntar ao Juiz: - Excelência, é mesmo testemunha do reclamante? - Sim, sim, respondeu o Juiz, meio desconfiado.
Segue-se o "bombardeio" de perguntas. Aí o Juiz não se conteve: - É mesmo sua testemunha Dr.?
Estava ficando constrangedor para o procurador da outra parte. Eu tive que me conter, para não cair em gargalhada.
Após terminado a "chuva" de perguntas, o Juiz passa a palavra à minha procuradora. Ela olha para mim: - tens alguma pergunta? Eu respondi: - não! Olhou para o Juiz: - sem mais perguntas Excelência.
Todos saíram quietos da sala. Cada um com o seu silêncio (silêncios diferentes, é claro).
A sentença não saiu ainda, mas estou tranquilo, muito tranquilo.
OBRIGADA LINDO CORAÇÃO. SEUS TEXTOS SÃO EXCELENTES, EU OS ADORO. MATOU MINHA SAUDADE!
ResponderExcluirObrigado Dani,
ResponderExcluirEstou deixando um pouco de lado este blog, pois tenho me dedicado mais a outros blogs.
Vamos ver se sobra mais tempo para dedicar ao Pelas Salas de Audiência...
Abração,
Obrigado, Fábio. É um prazer recebê-lo aqui. Visite mais vezes.
ResponderExcluirAbraço,
Celso Ceschini